Preocupados com o avanço do mercado imobiliário, estimulado pela chegada da Estação Butantã do Metrô, moradores do Morro do Querosene iniciaram a batalha pela preservação de uma área verde do bairro, batizada por eles como “Chácara da Fonte”. Além de guardar nascentes e trechos originais de Mata Atlântica, o espaço tem relevância histórica e cultural.
Segundo a diretora da Associação Cultural da Comunidade do Morro do Querosene, Cecília Pellegrini, o terreno tem relação direta com o período anterior à chegada dos portugueses no Brasil. “Na Vila Pirajuçara, que hoje chamamos Morro do Querosene, ficava uma bica e um pequeno balneário para matar a sede e refrescar os viajantes do Peabiru”.
De acordo com alguns historiadores, o Peabiru era a rota que ligava o litoral paulista, onde hoje é a cidade de São Vicente, até Machu Picchu, capital do império Inca, no Peru. “Este caminho não foi aberto da costa para o interior, já existia quando aqui chegaram os europeus, que o utilizaram para adentrar o continente atrás das riquezas de ouro e prata das quais já haviam ouvido falar”, afirma Cecília.
Ainda segundo ela, o local onde hoje está o Morro do Querosene era utilizado por diversos povos indígenas da região e utilizado como ponto de encontro de outras rotas, que nos séculos seguintes seriam referências de estradas atuais, como a Rodovia Raposo Tavares. “Este tráfego que vemos hoje no Butantã, guardadas as devidas proporções, já existia em virtude da fonte”.
A diretora da associação tem como base em suas afirmações estudos de especialistas do Instituto de Geografia e História de São Paulo que colaboraram para o tombamento da área de 35 mil m2 no ano passado pelo Conpresp (Conselho Municipal do Patrimônio Histórico). Documentos da Biblioteca de História da USP, que revelam o desenvolvimento da região também foram utilizados como argumentos técnicos.
Além do aspecto histórico, a importância do espaço para os moradores é justificada pelo potencial cultural do Morro do Querosene, reduto de artistas das mais diferentes áreas. Por estas características, em 2002, a área da Chácara da Fonte foi incluída Plano Diretor como uma Zona Especial de Preservação Cultural (ZEPEC).
Manifestações populares como a tradicional festa do boi-bumba, rodas de capoeira, samba de roda, grafite e maracatu eram realizadas no local até que um muro fosse erguido pelos proprietários em 2011. A intervenção gerou uma mobilização em prol do tombamento e criação de um parque público.
Segundo Cecília, uma área verde aberta ao público no bairro proporcionaria benefícios significativos à região. “Não existem parques voltados ao lazer no perímetro das avenidas Doutor Vital Brasil e Corifeu de Azevedo Marques, a não ser a Praça Elis Regina e o Instituto Butantan, que também não é propriamente um parque, já que é destinado a pesquisas”.
Ainda de acordo com ela, os moradores locais pretendem que o parque tenha diversos atrativos. “Além da fonte com água limpa e árvores nativas, podemos instalar campinhos de futebol, parquinhos e um centro cultural para a comunidade do Morro do Querosene. Estas melhorias também pode atender aos bairros vizinhos, como Vila Indiana, BNH e City Butantã”.
Procurada pelo Jornal do Butantã - Grupo 1 de Jornais, a Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente informa que a implantação do parque ocorrerá em duas etapas: a primeira delas consiste no estudo fundiário e a segunda será a elaboração da planta expropriatória. Após o encerramento dessas duas fases, a pasta esclarece que está previsto para, aproximadamente, 40 dias, o encaminhamento do estudo para o Departamento de Desapropriações (Desap), da Secretaria de Negócios Jurídicos, que estudará as condições para a desapropriação.
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